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Foto do escritorSeneca Evercore | Notícias

Por Que o Brasil Não Tem Uma ‘Nasdaq’ para Chamar de Sua?

(Forbes) A bolsa brasileira segue com uma alta concentração de empresas exportadoras, apesar das últimas janelas de IPOs


Toda vez que a bolsa brasileira passa por uma janela de novas estreias, a esperança dos investidores é sempre a mesma: que a B3 deixe de ser a casa apenas de setores tradicionais, como commodities, infraestrutura e exportadoras agrícolas, e também represente o avanço e desenvolvimento da “nova economia”.


A realidade, no entanto, se mostra mais cruel. Nos últimos 10 anos, 84 empresas abriram seu capital na bolsa — com quase 80% das operações ocorrendo entre 2020 e 2021 —, mas é a velha economia que apresenta um retorno positivo aos investidores.


As operações de fusões e aquisições tiraram nove companhias da bolsa. Segundo um levantamento da consultoria Seneca Evercore, das restantes, apenas 17,9% tiveram um desempenho positivo em relação ao preço de seu IPO (Oferta Inicial de Ações, na sigla em inglês). Quando comparado ao desempenho do Ibovespa, apenas 9,5% tiveram uma performance superior ao índice.


Com exceção da Ambipar (AMBP3), todas elas têm ligação com setores mais ou menos tradicionais, como commodities, produção de petróleo e gás, sistema financeiro tradicional, construção e infraestrutura: Cury Construtora e Incorporadora (CURY3), Orizon (ORVR3), Caixa Seguridade (CXSE3), Plano & Plano (PLPL3), Wilson Sons (PORT3), PetroReconcavo (RECV3) e Grupo GPS (GGPS3).


Banho de sangue na bolsa

Maior referência global quando o assunto são ações de tecnologia — seja qual for o setor em que atuem —, a Nasdaq foi fundada na década de 1970, tornando-se uma grande força no mercado acionário mundial no fim dos anos 1990, com o surgimento das futuras “big techs”.


Hoje, a Nasdaq é a segunda maior bolsa de valores do mundo. Enquanto isso, o Ibovespa e outros índices brasileiros parecem estar longe de refletir uma economia diversificada e orientada para o futuro.


De acordo com o levantamento dos últimos dez anos, as companhias ligadas a commodities e materiais básicos (utilities) tiveram um menor número de ofertas, mas apresentaram um melhor desempenho no preço da ação. Ao todo, foram cinco IPOs nesses setores, que hoje acumulam um desempenho médio de 40,3% acima do preço de estreia.


Já empresas de tecnologia e varejo (principalmente aquelas ligadas ao e-commerce) apresentaram a pior performance comparativa: com 30 ofertas, nenhuma delas teve desempenho positivo em relação ao preço fixado no IPO e ao Ibovespa.


Para Daniel Wainstein, sócio-diretor da Seneca Evercore, parte do problema está no tamanho do mercado acionário brasileiro. Apesar de a B3 se aproximar da marca de 20 milhões de pessoas físicas cadastradas, a liquidez e a quantidade de capital circulante ainda são baixas para que empresas mais “arriscadas” ganhem a preferência dos investidores. Ou seja, em um cenário em que as condições de mercado podem mudar rapidamente, setores tradicionais tendem a se favorecer.


Wainstein também aponta que as próprias janelas de IPO podem ser culpadas pelo “fracasso” da nova economia. Isso porque, na visão do executivo, muitas empresas chegam imaturas e cedo demais à bolsa, o que faz com que a B3 veja uma janela “muito maior do que deveria existir” de estreias.


“Nós temos um perfil de mercado emergente com um cenário político errático, uma democracia jovem… Não é apenas no IPO que se precisa de demanda na bolsa”, explica. Para ele, para que possamos ver mudanças significativas, é necessário um período de estabilidade muito maior do que o enfrentado pelo país.


Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird, lembra que, diante dos persistentes problemas político-fiscais e das taxas de juros historicamente elevadas, os investidores locais tendem a adotar uma posição mais conservadora.


Um problema de emergentes?

Enquanto o Brasil patina para decolar em termos de “nova economia”, outros países emergentes não apresentam o mesmo problema. O índice MSCI Emerging Markets, que representa ações de diversos países dessa categoria, mostra que China, Taiwan, Coreia do Sul e Índia têm uma variedade muito maior em seus mercados acionários.


O índice é composto por 22,2% de empresas disruptivas, com destaque para semicondutores, comunicações e tecnologia da informação. No Brasil, essa participação é de apenas 4,8%.


NYSE dá um empurrãozinho

Para Alexandre Sant’Anna, gestor de renda variável da ARX Investimentos, embora o principal índice de ações local ainda tenha uma participação elevada de bancos, petróleo e commodities metálicas, o crescimento gradual dos setores ligados à nova economia é inegável.


“Não se compara ao tamanho que esse setor representa nos índices de ações dos principais emergentes asiáticos, mas, considerando as ações brasileiras listadas no exterior, já começa a ter representatividade”, explica o gestor.


Grandes exemplos de sucesso dos últimos anos, como Nubank, XP, Inter e Stone, abriram seu capital ou migraram para Nova York. Para analistas, isso aconteceu pela maior percepção de valor que fintechs e empresas de tecnologia têm no exterior.


Apesar de estarem baseadas nos Estados Unidos, essas companhias passaram a ser consideradas pelo MSCI Brazil, que serve de base para o EWZ — o principal fundo de índice de ações brasileiras negociado no exterior e que funciona como termômetro dos negócios no Brasil.


Com as empresas que optaram pela NYSE sendo incluídas no índice, a ARX estima que a “nova economia” já represente 15% do índice internacional.


“Apesar de essas ações não terem representatividade nos principais índices do público doméstico, como Ibovespa e IBX, o aumento de sua participação nos índices globais de ações brasileiras nos impede de dizer que o setor não está ganhando tração. Em nossa visão, é um processo gradual que deverá continuar”, conclui Sant’Anna.


Para o gestor, o desenvolvimento do mercado de capitais impulsionará essas empresas, mas o caminho a ser percorrido pela bolsa brasileira ainda é inegavelmente longo.


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