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Foto do escritorSeneca Evercore | Notícias

Empresas em reestruturação trocam comando por pressão de credores e acionistas em 2024

(Valor Econômico) Mudança no alto escalão tem sido motivada por busca de melhores resultados e dívidas


Por Mônica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães — De São Paulo


O ano de 2024 foi marcado por intensa troca de CEOs em importantes companhias, reflexo do processo de reestruturação de boa parte das empresas, além da pressão de acionistas e credores por melhores resultados, apurou o Valor com fontes a par do assunto.


No dia 12 de novembro, a Vivara anunciou uma nova troca de seu principal executivo - a quarta mudança apenas neste ano, em um movimento de seu fundador Nelson Kaufman impor um nome de sua confiança. Também no varejo Marisa e Rede Dia, ambas em reestruturação, trocaram seus presidentes este ano, sendo que na varejista de moda houve duas alterações em um único mês. Já na indústria, a substituição do alto escalão está intensa, seja por baixa performance do negócio ou por alto endividamento - ou ambos.


Em outubro, o grupo Cosan anunciou uma dança de cadeiras nas suas principais holdings de negócios, que incluíram Raízen, Rumo e Cosan Investimentos. Foi a maior mudança de gestão da companhia desde que o grupo promoveu sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no início dos anos 2000. O mandato para os novos gestores do conglomerado de Rubens Ometto será reduzir a alavancagem das companhias. O grupo aumentou o endividamento, em parte por conta do pesado investimento para se tornar acionista da Vale.


Há muitas empresas fazendo mudanças no “top management” (topo do comando), em um cenário de endividamento elevado e alta de juros, o que tem levado um número maior de empresas a fazer reestruturação, afirmou ao Valor Daniel Wainstein, sócio e presidente da Seneca Evercore.


“Diante deste contexto, os acionistas decidem trocar o principal executivo para buscar um CEO com um perfil mais adequado para o atual cenário da empresa”, disse Wainstein.

Segundo o executivo, muitas companhias em reestruturação sofrem pressão de credores e investidores para criar mais liquidez para resolver o problema de dívida. “Há investidores, sobretudo em casos de ‘special situations’ que buscam a troca do management para promover reestruturação mais rápida.” Dentre empresas com problemas financeiros que seguiram esse caminho neste ano estão nomes como 2W, Sequoia e ainda a Agrogalaxy.


A mudança no alto escalão reflete cenário de alta de juros e endividamento”

— Daniel Wainstein


Na Paranapanema, em recuperação judicial, por exemplo, a troca de CEO acaba de ocorrer para substituir uma gestão interina, que tinha assumido há empresa há dois anos para colocar a casa em ordem. Ex-Marisa até fevereiro, João Nogueira, assumiu o comando da indústria refinadora de cobre. Na tele Oi, uma troca deverá ocorrer em breve, com acionistas buscando um CEO especializado em atuar em situações de crise, conforme já noticiou o Valor.


“A maior troca de CEOs tem relação direta com ciclos econômicos. As empresas têm uma relação forte com indicadores econômicos e em períodos de mais desafios se observa mais esse movimento”, afirmou o professor de finanças da FGV, Joelson Sampaio. Ele aponta que o contexto de maiores juros, inflação e câmbio depreciado aumenta os desafios das empresas, algo que leva a pressão de investidores por resultados. “E essa maior pressão acaba se traduzindo em troca de CEOs e é isso o que estamos observando em 2024”, diz.


Outra troca marcante do ano ocorreu no Bradesco, depois de um período de resultado aquém do esperado pelo mercado. A petroquímica Braskem, que vive momento de baixa do ciclo de insumos, também anunciou mudança no comando.


A chegada de novos investidores ao negócio em empresas que não estão necessariamente em crise também costuma passar por mudança de gestão. O caso mais recente é o da Sabesp, que foi privatizada e tem a Equatorial como principal acionista de referência. Com o evento, o executivo Carlos Piani chegou para comandar a companhia de saneamento nesta nova fase de expansão.


Este ano, importantes companhias anunciaram mudança no processo sucessório. Beto Abreu, ex-Rumo, substituiu Walter Schalka, que deixou o dia a dia da Suzano para ir para o conselho, e a WEG anunciou Alberto Kuba como presidente. Nesses dois casos, a alteração já estava programada.


“É importante entender que nem sempre a saída de um CEO é um sinal negativo para a empresa. Em muitos casos, a troca de liderança pode ser um passo necessário para garantir o sucesso a longo prazo da organização”, afirmou o especialista em psicologia empresarial, Fredy Figner.


Duas importantes companhias do país - Petrobras e Vale - também estiveram nos holofote por conta da ingerência do governo no processo sucessório.


No caso da Vale, a substituição já estava prevista e a definição seria anunciada em janeiro para o executivo assumir o cargo em maio deste ano. No ano passado, contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quis impor o nome do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, provocando um racha no conselho de administração, conturbando por meses a escolha do novo CEO. Gustavo Pimenta, principal executivo financeiro foi escolhido em agosto, substituindo Eduardo Bartolomeo, com a missão de melhorar o trânsito da mineradora com o governo federal e retomar os projetos de expansão.


Já Jean Paul Prates foi demitido da Petrobras em maio, em meio a uma fritura de parte da base do governo - ele foi substituído pela executiva Magda Chambriard.


Procurada pelo Valor, a Vale não comenta. A Petrobras informou, por meio de sua assessoria, que mantém os posicionamentos públicos divulgados em maio, quando aceitou o pedido de renúncia de Prates e a indicação de Chambriard para o comando. A Cosan também informou que mantém o posicionamento público de mudança de comando em outubro.


O presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que a mudança de executivos foi “uma medida de atualização necessária aos desafios de mercado. A pandemia mudou toda a relação de troca da economia, as formas de funcionamento dos modelos de negócio e, ainda, trouxe uma política econômica global diferente, que privilegiou o aumento da liquidez e juros baixos. Segundo ele, Marcelo Noronha possui, assim, o perfil adequado ao atual momento. “O objetivo definido pelo conselho de administração é a recuperação da rentabilidade de antes da pandemia. E isso será conseguido de forma sustentável e estrutural. O importante é consolidar um caminho coerente e sólido.”


Em comunicado, a Paranapanema disse que a troca de CEO era mais um passo de seu processo de recuperação judicial, após o fim da gestão interina que assumiu o comando da companhia para sua reestruturação. Agora, com a chegada de João Nogueira Batista, o momento é de se olhar o longo prazo. A Suzano reiterou material divulgado na época da troca do presidente, em que destaca que Beto Abreu chega à fabricante de celulose com “a missão de dar andamento ao plano estratégico”.


A maior troca de CEOs tem relação com indicadores econômicos”

— Joelson Sampaio


A Rede Dia afirmou, em nota, que em maio “deu início a uma nova fase de sua trajetória”, com a chegada de Fabio Farina. “A empresa definiu uma estratégia clara: manter a continuidade operacional, concluir o processo de recuperação judicial, aprimorar o atendimento ao cliente e fortalecer a competitividade no mercado brasileiro.”


A Sequoia, por sua vez, disse que após o processo de reestruturação “vislumbra um novo ciclo positivo que se abre para o negócio“ a partir de 2025, mais preparada para a retomada operacional com maior solidez e rentabilidade” e que a chegada de Alexandre Rodrigues, seu novo presidente, marca uma nova fase na companhia. “Superado o desafio financeiro, o foco agora é a transformação estrutural e operacional, liderada por um executivo com vasta experiência em logística, operações industriais e serviços”, afirma.

Já a rede varejista de joias Vivara não comentou o assunto e reiterou as informações divulgadas ao mercado pela sua área de relações com investidores.


A Braskem informou que a entrada de um novo diretor-presidente faz parte de um processo estruturado de sucessão. “Roberto Ramos é formado em engenharia mecânica pela UFRJ e possui extensa bagagem como conselheiro, empresário e executivo. Ele liderou a Ocyan como diretor presidente.”


Também procuradas, a Oi, Agrogalaxy, Sabesp não quiseram se manifestar sobre o tema.

Já a rede de moda feminina Marisa informou, por meio de sua assessoria, que a mudança de CEO com a chegada de Edson Garcia, significou a combinação de um correto posicionamento estratégico com a disciplina financeira. Segundo a rede, após o processo de reestruturação, “a Lojas Marisa alcançou números expressivos e está virando o jogo”. “No terceiro trimestre, a receita da Marisa cresceu 55% para R$ 350 milhões e Ebtida aumentou R$ 108 milhões, o que representou um crescimento de 163%. O resultado desse balanço mostra que estamos no caminho certo”, informou a companhia.


Matéria publicada no jornal Valor Econômico (impresso e online) no dia 02/12/24 - disponível em https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/12/02/empresas-em-reestruturacao-trocam-comando-por-pressao-de-credores-e-acionistas-em-2024.ghtml

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