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Foto do escritorSeneca Evercore | Notícias

Com melhora da economia, fila de fusões e aquisições destrava

(Valor Econômico) Perfil das transações começa a mudar no segundo semestre, com a retomada da consolidação entre empresas rivais


Por Mônica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães — De São Paulo


13/09/2023 05h03 Atualizado há 18 horas


A fila de operações de fusão e aquisição (M&A, no jargão do mercado financeiro) começou a destravar, depois de um período mais morno para o desfecho de transações, dadas as incertezas em relação ao novo governo e juros altos afetando o financiamento de longo prazo. As operações envolvendo a venda de ativos por empresas endividadas, que ganharam a cena nos primeiros meses do ano, começaram a dividir espaço com típicas transações de consolidação, com companhias voltando a mirar estratégias de crescimento.


A retomada das conversas entre Cobasi e Petz para uma fusão, conforme antecipou o Valor, mostra que as companhias já começam a buscar consolidação em um momento no qual o cenário macroeconômico dá sinais de recuperação. Fontes afirmaram que as negociações ainda estão em fase inicial e cada uma das famílias começa a discutir o que poderá contribuir para a nova empresa a ser formada entre elas com a troca de ações.


Uma transação de grande porte anunciada na semana passada foi a venda da Kopenhagen para a gigante do setor de alimentos Nestlé, que reforçou sua posição no Brasil em um momento em que investidores estratégicos estrangeiros aumentam a atenção ao país.


No entanto, apesar de conversas apontadas como “mais saudáveis de M&A” estarem despontando com maior ritmo na mesa nas últimas semanas, o cenário de operações ainda inclui empresas com pesadas dívidas e que continuam se desfazendo de ativos para melhorar seus balanços. Na semana passada, por exemplo, a Natura anunciou que avalia a venda da The Body Shop. Neste ano, a gigante de beleza e cosméticos já tinha vendido a Aesop por US$ 2,5 bilhões para o grupo L’Óreal, o que ajudou a reduzir a alavancagem.


Fontes próximas à companhia disseram que a provável venda da The Body Shop levará a Natura a voltar às origens, para só depois a companhia voltar a crescer. As apostas são de que a gigante só fique com os ativos da Avon da América Latina, vendendo, assim, o restante da marca. Outra empresa que surpreendeu com um movimento rumo à redução de alavancagem foi o frigorífico Marfrig, que vendeu 16 plantas para a concorrente Minerva.


Fontes ouvidas pelo Valor apontam, que em ambos os casos, as empresas estão fazendo “o caminho de volta”, depois de se alavancarem com a estratégia de crescimento via aquisições.


Mas a consolidação de negócios de grupos nacionais e estrangeiros olhando para o Brasil começa a movimentar o mercado neste segundo semestre. “Várias conversas que estavam ‘on hold’ [em espera] entre o fim do ano passado e início deste ano começaram a avançar, sobretudo para agenda estratégica. Temos um cenário com menos risco agora. Então, muitas dessas conversas começaram a ser resgatadas”, afirma Diogo Aragão, responsável pela área de M&A do Bank of America (BofA) no Brasil.


Os resultados, contudo, virão entre o fim do ano e o primeiro trimestre de 2024, afirma Aragão. “A criação de valor para as companhias é maior quando há uma combinação de negócios”, diz o executivo, reforçando que em alguns casos, para a busca de crescimento, a estratégia de fusão é melhor do que a expansão de forma orgânica.


As conversas atuais têm sido mais racionais em termos de valor do negócio, observa o executivo do BofA. Ou seja, há um ajuste no preço dos ativos, sobretudo das empresas listadas em bolsa cujas ações estão desvalorizadas em relação à listagem.


Para o responsável pelo banco de investimento do Citi, Eduardo Miras, a temática de consolidação sempre é um impulsionador para a indústria de M&A, assim como operações para readequação e reequilíbrio de portfólio, algo que pode ocorrer por meio da venda de ativos ou busca de sócios minoritários. Com isso, ambas as discussões estão acontecendo em transações negociadas no momento, diz. O responsável pela área de M&A do Citi, Antonio Coutinho, frisa que um ponto que mudou mais recentemente é o maior interesse de investidores estratégicos estrangeiros por ativos no Brasil. “Se em 2020 e 2021 vimos muita consolidação doméstica, hoje temos operações ‘cross-border’”, comenta.


Miras, do Citi, enfatiza que os estrangeiros estão enxergando oportunidades no Brasil também em um momento de mais desafios entre os pares emergentes, o que faz com que o país se destaque na escala referencial. O executivo, por outro lado, aponta que a atividade de M&A no mercado local segue abaixo da média histórica e que sua retomada será gradual, reforçando que os mandatos que começam a chegar à mesa terão desfecho apenas em 2024.


Miras lembra que um indicador importante veio do mercado de dívida, que voltou a ficar funcional após os eventos corporativos do início do ano, uma perna fundamental para se manter de pé as conversas de M&A. Os executivos do Citi reforçam ainda que, assim como no começo do ano, as operações estão levando mais tempo para serem concluídas, e o índice de mortalidade tem sido alto.


“Houve no começo do ano muitas incertezas, com juros, inflação e fiscal. Com isso, uma espera para as empresas colocarem o pé no acelerador. Agora as conversas aumentaram muito a frequência”, afirma José Paulo Scheliga, presidente da Oriz Partners.


Segundo o executivo, desde o final do primeiro semestre o pipeline começou a apresentar “M&As mais saudáveis”, embora algumas operações estejam à espera da reabertura da janela de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) para as empresas conseguiram financiar suas aquisições.


Há ainda transações de empresas que buscam ajustar balanços, muitas até em um contexto de recuperação judicial, precisando vender ativos para buscar liquidez. No entanto, por outro lado, já começaram a reaparecer as transações com viés de consolidação, aponta Scheliga.


A melhora do pano de fundo tem acontecido desde abril, destaca o sócio da Seneca Evercore, Daniel Wainstein. O executivo diz que o maior otimismo veio depois de um primeiro trimestre marcado por uma das maiores crise de crédito no Brasil. A partir de então, ele conta que tem recomendado o lançamentos dos processos.


“Desde abril mudou radicalmente o ambiente de Brasil. Tínhamos muitos ‘deals’ congelados que pudemos trazer de volta”, comenta. Wainstein prevê uma melhora do volume de M&A no segundo semestre e números mais robustos para a primeira metade de 2024, período para o qual estima um volume de US$ 30 bilhões, acima da média histórica para um semestre, que ronda entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões.


Na Fortezza, há operações na mesa que envolvem empresas que precisam ajustar o balanço. Também há casos, segundo o sócio da consultoria Denis Morante, de empresas que estão bem operacionalmente, mas com dívidas altas, que precisam ser equacionadas. Por isso, alguns mandatos envolvem a venda de toda a companhia. Apesar disso, o executivo diz que, na sua leitura, o cenário é de mais otimismo para 2024. “Começo a ver um clima mais fácil para os negócios andarem.”


Procurada, a Marfrig esclarece que a operação de venda de 16 unidades de abate para a Minerva Foods, realizada no final de agosto, fez parte de um movimento estratégico de foco em produtos de alto valor agregado (industrializados e de marca). "Esse movimento teve início em 2018, com a aquisição da National Beef.”




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